‘Sustentabilidade não é parte do nosso negócio, ela é o nosso negócio’, diz diretor da Ambev

Luis Filipe Santos • 4 de julho de 2025

A Ambev , maior cervejaria do Brasil e dona de marcas como Skol e Brahma, além de outras bebidas alcoólicas e não alcoólicas, pode ser um exemplo dos desafios das empresas na jornada de redução de emissão de gases que causam o aquecimento global . A companhia reduziu em 50% as emissões dos escopos 1 e 2 (das próprias operações e da energia consumida, respectivamente), por meio do uso de fontes renováveis . Contudo, ainda faltam as de escopo 3, que englobam toda a cadeia produtiva do campo até o descarte das latas e garrafas e responde por 89% das emissões.

Por isso, a jornada de descarbonização da companhia está apenas no início - a meta é chegar a zero em 2040, no momento em que a Ambev teria reduzido suas emissões ao máximo possível e o resto seria compensado de outras formas, como o plantio de árvores. Para esse caminho, a empresa conta com um programa de compartilhamento de informações com os fornecedores, o Eclipse.

Em entrevista ao Estadão , o diretor de sustentabilidade da Ambev, Luiz Gustavo Talarico, explica mais sobre esse programa e sobre como a empresa atua em outras questões ambientais, como o uso de água e a agricultura. Confira os principais trechos.

A Ambev conseguiu reduzir as emissões de escopo 1 e 2 em 50%. Qual é o caminho previsto para cortar o restante das emissões desses dois escopos?

Viemos numa jornada de eficiência há bastante tempo, há 20 anos. Já conseguimos reduzir esses 63% das emissões diretas da companhia. É um trabalho que vem desde 2002, quando começamos a trabalhar com recuperação de biogás na nossa operação. Temos um corpo técnico dentro do nosso time industrial que olha as melhores práticas, então temos também trabalhado com outras fontes energéticas. O caminho mesmo é a eficiência, então, primeiro reduzir a quantidade do uso de energia para depois a gente achar formas alternativas. O caminho muito passa por um processo de conseguir cada vez mais trabalhar com eficiência, corrigir pequenos erros, procurar melhorias na nossa gestão. Depois disso, também começar a trabalhar com a substituição energética, procurar novas fontes de energia que sejam renováveis.

E qual é o plano da Ambev para o escopo 3?

Hoje o escopo 3 é aproximadamente 89% de todas as nossas emissões, então nosso desafio está na cadeia. São alguns pontos: nós segmentamos nosso escopo 3 em algumas frentes, o que temos com os nossos fornecedores, a compra de insumos, a questão da agricultura, onde compramos insumos agrícolas, esses dois representam quase 60% das nossas emissões. Tem a logística, o transporte desde a matéria-prima para a nossa operação, e da nossa operação para frente, e também o uso dos nossos produtos, considera ali a emissão da rede elétrica, das geladeiras que refrigeram os produtos da Ambev. Para cada um deles tem algumas iniciativas.

Quais são as iniciativas?

Para trabalhar com os nossos fornecedores, a gente tem uma plataforma chamada Eclipse. O Eclipse é uma plataforma de colaboração e compartilhamento de informações com os nossos fornecedores e os nossos parceiros comerciais. Hoje, temos monitoramento de toda a cadeia, mas com esses fornecedores a gente trabalha para primeiro engajá-los a entender onde eles estão na jornada climática — por exemplo, quem já tem um departamento específico para a mudança climática, quem já tem metas e ambições, quem já tem um inventário de gases de efeito estufa auditado. Fazemos essa avaliação de maturidade, e depois disso, todo ano pedimos para eles reportarem os dados de emissões deles. Começa depois a parte de engajar com eles em compartilhar treinamentos e as melhores práticas, fazer workshops. Abrimos mais esse leque de colaboração e trabalhamos também em planos de descarbonização para eles. Hoje o nosso grande foco de trabalhar com a cadeia de valor é o Eclipse com os nossos fornecedores.

Luiz Gustavo Talarico, diretor de sustentabilidade da Ambev; companhia pretende zerar emissões de carbono até o ano de 2040
Luiz Gustavo Talarico, diretor de sustentabilidade da Ambev; companhia pretende zerar emissões de carbono até o ano de 2040

Vocês oferecem ajuda financeira ou tomam outras ações?

Compartilhamos um pouco do que já foi feito, muito mais em questão de conhecimento e meios. Já temos passado por essa jornada, então compartilhamos o nosso próprio caminho, como a gente fez para conseguir energia elétrica renovável, como tem trabalhado a logística, até sugerir projetos em conjunto. Não teve nenhum caso de co-investimento, não temos essa visão. Mas sempre entendemos também as limitações, sabemos que alguns projetos de transição, nesse primeiro momento podem parecer um custo a mais, então também trabalhamos em engajar sobre o que isso pode significar no longo prazo, de que forma vire a chave e se torne oportunidade de redução de custos no futuro. Tentamos também engajar em mostrar ferramentas que podem ajudar a tomada de decisão.

Por que a meta de alcançar o net zero é para 2040? A companhia está conseguindo avançar no ritmo necessário para cumprir essa meta?

A meta é muito baseada no que temos estudado, olhando a ciência e o ecossistema como um todo. Entendemos a nossa velocidade de descarbonização própria, sabemos que 89% das nossas emissões não são diretamente da nossa cadeia. A meta ficar para 2040 vem muito da dificuldade de ter uma cadeia em que algumas coisas ainda dependem muito de combustíveis fósseis, tem uma dificuldade. Tem caminhos para chegar em reduções gradativas. Tinha uma intensidade de emissão de carbono para cada litro de bebida produzida, temos que produzir essa mesma quantidade de produtos com 25% a menos de emissões. Estamos no caminhos para isso. Vamos começar também a trazer essas mudanças na cadeia.

Quais fontes de energia renovável a Ambev utiliza, tanto nas fábricas quanto na frota?

Para nossa operação, estamos trabalhando muito com energia eólica, uma parte da nossa distribuição também tem energia solar. Tem contratos específicos sobre a geração dessa energia. E quando se fala da fonte energética, a gente trabalhava muito, a maior parte das operações eram com biogás natural, temos conseguido fazer a substituição para diferentes pontos. Então, desde biometano, onde há essa disponibilidade, e usamos também a biomassa em lugares onde a gente vê essa abundância de fonte. Em alguns lugares, trocamos o óleo de fonte fóssil para um óleo vegetal. Depende muito da disponibilidade da matriz na região.

Quais são os principais esforços voltados para a economia circular? Por exemplo, há um trabalho específico voltado para a reciclagem de vidro?

Hoje, começamos a integrar bastante as coisas. Temos estratégia para tentar, primeiro, reduzir o impacto. A Ambev já vem trabalhando o uso de materiais sustentáveis, de tentar reduzir o uso de matéria-prima dentro de uma mesma embalagem, de tentar fazer ela ter uma vida mais longa, ou até fomentar a própria cadeia de reciclagem. No vidro, temos um exemplo que são as garrafas retornáveis. O retornável faz muito parte da nossa estratégia e da nossa cultura, como Brasil, e até em outros países na América do Sul. Caso a garrafa volte para nossa operação, passa por um processo de qualidade. Se não está em qualidade de ser envasada, ela é quebrada e direcionada ou para nossa própria fábrica ou para algum fornecedor, e garante a reciclagem. Temos uma fábrica de vidros no Rio de Janeiro e somos, inclusive, um dos maiores recicladores de vidro da América Latina.

Como vocês trabalham em relação a outras embalagens, de plástico e de alumínio?

Trabalhamos com parcerias. Desde 2017, fundamos com a Coca-Cola e a Ancat ( Associação Nacional dos Catadores ) um projeto de ajudar a profissionalizar as organizações que estão envolvidas com a logística reversa, com a reciclagem. Temos que aumentar esse volume de resíduos que são coletados e também trabalhar com a questão social da renda dos catadores. Esse programa lançado em 2017 tem atraído mais empresas, hoje tem mais 14 associadas, além da Ambev e da Coca, e já está em 25 dos estados e no DF com 5 mil catadores. Conseguimos apoiar a cadeia de reciclagem e trabalhar muito nesse modelo de estimular uma reciclagem justa e inclusiva, e estimular que os parceiros também trabalhem a reciclagem dentro da cadeia deles.

Como a Ambev faz a gestão dos recursos hídricos que utiliza?

A água é um dos nossos principais insumos, sem ela não tem bebida. Isso foi um ponto de partida lá atrás, e desde então viemos trabalhando a eficiência hídrica com várias práticas, e esse indicador é acompanhado de uma forma bem gerencial nas cervejarias, em toda operação, por todos os times. Isso trouxe esse sentimento de que a gente é dono da nossa água e conseguimos reduzir o gasto. Trouxemos uma redução de 50% do uso de água por litro produzido nesses 20 anos. Estamos sempre de olho para ver se não tem, por exemplo, um vazamento de água, e estamos procurando tecnologias que ajudem a gente a usar menos água pra produzir nossa cerveja. O objetivo era de, até 2025, chegar em dois litros e meio de água pra cada litro de cerveja, e foi superado já em 2023. Estamos em 2,37 litros de água para cada litro de bebida produzido, em 2024.

Há algo voltado para os locais de onde a água é retirada?

Em 2010, criamos o programa Bacias e Florestas, pra atuar em áreas que a gente considera de alto estresse hídrico. Temos uma metodologia global que ajuda a gente a identificar qual fábrica em qual bacia está exposta a um risco hídrico maior, e trabalhamos com vários parceiros, com municípios e ONGs, que ajudam a gente a mapear como trabalhar esse risco hídrico. São projetos desde reflorestamento de matas em torno dos rios, até trabalhar melhores práticas de manejo com os produtores locais. Todas as nossas fábricas tem estações de tratamento de efluente industrial, e temos indicadores que garantem que a água está sendo devolvida com a qualidade minimamente igual à que a gente retirou, se não melhor.

A Ambev tem metas de desempenho de sustentabilidade para os executivos. Quais resultados elas têm trazido? Depende delas também o bônus que eles recebem?

Esse é um exemplo bem forte de como a sustentabilidade não é só uma parte do nosso negócio, ela é o nosso negócio. Se faz parte da nossa estratégia, tem que fazer parte também da nossa remuneração. Desde 2022, todos os nossos diretores executivos tem alguma meta de alguma forma relacionada à sustentabilidade dentro do escopo de atuação deles, do dia-a-dia. Por exemplo, o nosso vice-presidente industrial trabalha com os indicadores industriais. Isso é bom, porque reforça o quanto a sustentabilidade é realmente o centro de tudo o que fazemos. E também ajuda a manter o engajamento dos times.

Ambev hoje gasta 2,37 litros de água para cada litro de bebida produzido, em 2024
Ambev hoje gasta 2,37 litros de água para cada litro de bebida produzido, em 2024

A Ambev tem um programa de startups voltado para questões ambientais. Você pode explicar o que é esse programa e como ele tem trazido resultados?

Criamos esse programa muito pensando que, além dos desafios que a gente tinha lançado em 2018 para serem atingidos em 2025, em água, agricultura, embalagem e clima, nem tudo já tinha a solução pronta ou já conhecida. Então, a ideia da aceleradora era muito mais sobre aprender com quem já estava trabalhando conosco. Tem muita solução que já existe no mundo e, às vezes, até pelo tamanho da escala das coisas que a gente trabalha ou pelo tamanho do próprio mercado, acabamos não conseguindo acessar. A ideia da aceleradora foi muito a gente se conectar com essas soluções inovadoras para os nossos desafios socioambientais e fomentar a inovação. Já investimos mais de R$ 20 milhões nesses serviços, com mais de 100 startups impactadas. Nós treinamos elas, fazemos parcerias, conectamos com outros parceiros de negócios que também podem se beneficiar das soluções. Tem soluções que às vezes não são para a Ambev diretamente na nossa operação dia a dia, mas com certeza se encaixam com os nossos parceiros fornecedores.

Como é o trabalho da Ambev voltado para sustentabilidade na agricultura?

Temos um ciclo de objetivos e metas para cada ano, e o de agro é falar que a gente está conectado com cerca de 2,5 mil agricultores diretamente. Nosso objetivo hoje é que todos esses agricultores, 100% deles estejam conectados, capacitados e financeiramente empoderados. E isso significa, por exemplo, visitas dos nossos agrônomos, para compartilhar as melhores práticas. Temos ferramentas online que os ajudam a monitorar tanto o clima quanto o uso de insumos, a produtividade da própria produção deles, para desenvolver o negócio. Sabemos que financeiramente eles podem estar expostos a riscos se tiverem algum problema na safra. Então, temos sempre que trabalhar de forma que eles tenham essa segurança financeira. Temos uma relação muito de parceria com esses agricultores. E pensando também na parte de emissões, quando a gente fala de rentabilidade, entendemos hoje que a agricultura é em torno de uns 20% das nossas emissões, então, é super importante estar na nossa jornada. E temos investido em conhecimento, em compartilhar melhores práticas sobre a agricultura regenerativa, um assunto que a gente tem entendido que traz a maior resiliência no longo prazo e não só ajuda a saúde do solo, mas também trabalha com a questão de biodiversidade e até a ressequestrar carbono. Há diversas técnicas e nossos produtores até já faziam elas antes da gente começar a falar sobre isso com vários deles. Entendemos a necessidade regional, a realidade de cada produtor, de acordo com cada bioma.

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